Sefirat Haomer
Na segunda noite de Pêssach que ocorre no dia 16 de Nissan, iniciamos Sefirát HaÔmer, contando 49 dias entre Pêssach e Shavuot, dia em que a Torá foi outorgada ao povo de Israel. Esta contagem foi ordenada por D'us e serve como preparação ao povo para o recebimento da Torá.
Em nosso Sidurim, usado na Beit El Shamah, a contâgem com suas brachot estão descritas a partir da página 210.
O Que significa Sefirat Haomer?
A palavra "sefirat" basicamente significa cálculo ou contagem. Mas o que contamos afinal? Conta-se coisas de valor.
Conta-se unidades de tempo até um objetivo desejado. Para uma criança, poderia ser: "Quantos dias faltam para as férias?" Para um adulto: "Quantas semanas ou meses até que eu consiga meu diploma? Ou "Quantos anos até que eu possa pedir uma promoção?"
Freqüentemente os itens contados são unidades de tempo. No judaísmo, tempo tem grande valor; é proibido desperdiçá-lo, ou matar o tempo.
Na tradição Judaica, o termo "sefirá" também possui significado específico, e refere-se à contagem dos 49 dias entre Pêssach e Shavuot. Em Pêssach, o povo judeu foi redimido de um terrível período de escravidão física na "casa do cativeiro", no Egito. Em Shavuot, que comemora D'us outorgando Seu precioso presente, a Torá, ao povo judeu no Monte Sinai, celebramos nossa passagem da Escravidão Espiritual à Liberdade Espiritual.
O objetivo da Redenção Física é a Redenção Espiritual. Sem a Espiritual, a Física nada significaria. A única fonte de moralidade é D'us; o ser humano é muito criativo, mas é incapaz de inventar um código moral. O melhor que o ser humano pode fazer por si só é estabelecer regras que impeçam a sociedade de mergulhar no caos.
A Torá prescreve um modo de vida que eleva o ser humano acima da natureza puramente física, ao nível de um ser moral e espiritual. Isso lhe possibilita entender que a consciência dentro dele foi plantada por D'us, e que ele tem a capacidade de atingir e modelar seu comportamento até determinado ponto, além daquele de seu Criador.
Ele ou ela vêm a perceber que a saída da Escravidão aconteceu apenas para tornar-se um servo novamente, mas desta vez não para servir a um ser humano chamado de "amo", mas ao contrário, para ser um Servo de D'us, o verdadeiro Mestre do Universo.
Seu Tempo e Sua Vida
A natureza da obrigação de Sefirat Haômer é contar. O Talmud diz: "U'sfartem lachem," - "Vocês deverão contar por si mesmos", o que implica que cada um deve fazer sua própria contagem, individualmente. Isto significa dizer que há uma obrigação para cada pessoa de contar, de exprimir sua percepção de que outro dia de sua vida chegou, trazendo uma nova oportunidade para o crescimento espiritual. Por isso a pessoa não pode cumprir sua obrigação de contar através de ouvir a contagem feita por uma outra.
Isto é de certa forma análogo a um sorvete: se estou pronto a saboreá-lo, outra pessoa não pode fazer a bênção no meu lugar. Comer um alimento requer permissão do seu provedor, o Criador do Universo, (e não ao fabricante do sorvete). Isto é feito por uma bênção precedente: "que tudo é criado pela Sua palavra." E também, agradecer através de uma bênção posterior.
Similarmente, no contexto de Sefirat Haômer, é "o meu tempo", designado a mim pelo meu Criador, de tornar-me uma pessoa melhor - contando - e por isso uma outra pessoa não pode contar por mim.
Por que luto?
Durante a contagem do Ômer estamos envoltos numa espécie de luto parcial, com certas restrições de comportamento, que são aliviadas em Lag Baômer, o trigésimo terceiro dia do Ômer.
No período entre Pêssach e Shavuot uma tragédia recaiu sobre os alunos de Rabi Akiva; quase todos faleceram. A causa da morte é atribuída a falta de respeito entre eles.
Considerando-se o fato de que o ilustre mestre tinha proclamado que a essência da Torá é "Ama o teu próximo como a ti mesmo", como poderiam então um grande número de estudantes terem ignorado o ensinamento básico de seu mestre?
O comportamento ético entre o homem e outro homem e entre o Homem e D'us pode ser chamado de principal objetivo da Torá. O Rebe explica que amor entre os estudantes de Rabi Akiva nunca faltou. Ao contrário, justamente por amor eles não aguentaram quando um colega interpretava o ensinamento do mestre de maneira diferente da que achavam certa. Começaram a ridicularizar uns aos outros com a intenção de fazer com que revissem os ensinamentos e os aplicassem conforme seu mestre, como deveriam ser, do seu ponto de vista.
O amor nunca faltou entre os alunos; o que faltou foi amor com respeito, e esta é a grande lição que podemos entender deste capítulo tão triste de nossa História.
Dois heróis
Dois gigantes da História Judaica estão envolvidos na observância dos dias de Sefirat Haômer: Rabi Akiva e seu aluno, Rabi Shimon bar Yochai.
Rabi Akiva está envolvido com o aspecto triste destes dias, porque, conforme a tradição, 24 mil estudantes seus pereceram durante este período.
Rabi Akiva demonstrou sua enorme fé superando a grande tristeza e dor da perda ao reconstruir sua yeshivá. Assim fazendo, ele reafirmou sua capacidade singular de vislumbrar a luz na mais negra escuridão.
Outro grande sábio desta época foi Rabi Shimon bar Yochai, um dos cinco alunos de Rabi Akiva que sobreviveram à tragédia. Seu nome está associado com o aspecto mais feliz de Sefirat Haômer; o dia de Lag Baômer.
Seu maior papel vivido na História Judaica é como autor do sagrado livro do Zôhar. Esta obra é a base da Torá oculta, conhecida como Cabalá, um dos alicerces da Chassidut.
Rabi Shimon foi sepultado em Meron, Israel. Todos os anos, em Lag Baômer, data de seu falecimento, dezenas de milhares de judeus reúnem-se no local para comemorar a data. Acendem tochas, dançam e cantam com grande alegria, conforme o pedido feito pelo próprio Rabi Shimon.
Fonte: Chabad
Uma jornada de 49 dias.
A cidade era cercada por uma cadeia de colinas altas e escuras. Pesadas nuvens pairavam sobre o vale estreito, não permitindo que um único raio de sol passasse através delas. Os habitantes nasciam, viviam e morriam neste "vale de lágrimas", como o lugar era por vezes chamado. Não tinham a mínima noção de que fora dali havia lugares felizes, banhados pelo sol.
Certo dia de primavera, um prodigioso estranho apareceu vagando pelo vale. Observando a vida triste e atrofiada que tinham naquele local, contou-lhes sobre sua terra natal: um lugar ensolarado, com ar fresco, cheio de alegrias e canções. Ninguém conseguia acreditar que existisse tal lugar.
Certa manhã, antes do romper da aurora, o estranho levou-os até os limites do vale, e quando a brisa da manhã dissipou as nuvens escuras, viram à distância, como se iluminado por um lampejo de luz, um planalto coberto de verde, no topo de um monte distante banhado pela luz do sol nascente.
"Esta é a terra à qual os levarei", proclamou o estranho homem ao surpreso povo do vale. A visão do sol e de seus raios transmitiram esperança ao povo, que seguiu entusiasticamente seu líder. A jornada da saída do vale escuro e úmido foi longa e traiçoeira. Havia terras incultas, desertos de areia, colinas escarpadas a galgar. Ainda não havia sinal da montanha maravilhosa que era o destino deles.
De tempos em tempos, o líder refrescava a memória das pessoas, lembrando-as daquela gloriosa manhã em que tinham avistado a montanha com seus próprios olhos. Nestas ocasiões, podiam ver novamente o topo da montanha banhado pela luz do sol. E esta lembrança dava-lhes a força e a fé necessárias para sustentá-los até o glorioso dia no qual realmente chegariam ao pé da montanha.
O vale cósmico
Esta, dizem os mestres chassídicos, é a história de nossa vida cotidiana: o constante conflito, a escalada exaustiva da escada da perfeição, aprimorando a matéria prima de nosso ser, chegando perto, mas na verdade jamais atingindo a plenitude. É uma escada cuja base está fixada no escuro vale de um mundo onde D'us oculta sua face, e em cujo topo brincam raios nascidos de um manancial de luz.
E mesmo assim existem aqueles raros momentos de revelação. Momentos nos quais a face de D'us sorri através da névoa e vislumbramos a terra prometida, ponto culminante de nossa jornada.
A história de nossa vida diária é a história de uma viagem feita na escuridão, a história de um conflito interior com as forças da natureza dentro e fora de nós. Mas sem aqueles lampejos vindos do Alto - sem os raios de luz que afastam a escuridão, embora apenas pelo mais breve dos momentos - não poderíamos sobreviver à jornada, e atingir nossa meta definitiva.
A escalada do Sinai
O protótipo desta jornada é Sefirat Haômer, a contagem dos quarenta e nove dias de Pêssach a Shavuot.
Por 210 anos nossos ancestrais viveram na escuridão. Escravizados pelos egípcios, habitaram em uma névoa espiritual que obstruiu qualquer vestígio de manifestação Divina.
Então, certo dia, um prodigioso estranho apareceu no meio deles. Falou-lhes de uma promessa antiga, feita pelo D'us de seus antepassados, de que um dia eles iriam deixar este mundo sem sol. Falou sobre o topo de uma montanha, na qual D'us apareceria a eles, tomando-os para Si como Seu povo escolhido, outorgando-lhes Sua Torá, a revelação de Sua sabedoria e vontade. Mas a escuridão do mundo em que viviam parecia impregnável. Não tinham a menor idéia de como era este mundo ensolarado, menos ainda de como chegar lá.
Então, ao romper da meia-noite na véspera de Pêssach, abriu-se uma brecha nas nuvens de seu exílio e contemplaram a face de seu Criador. Naquela noite, D'us revelou-Se a eles e os redimiu. D'us, é claro, poderia simplesmente tê-los tirado do Egito e levado ao Monte Sinai naquela mesma noite. Porém, Ele desejava que fosse a jornada deles, a conquista deles. Então, após aquela visão momentânea, a face de D'us retrocedeu. Começaram então a árdua escalada do Sinai.
Os judeus estavam fora do Egito, mas o Egito estava ainda profundamente presente neles. Por sete semanas, lutaram para refinar os sete traços de sua alma, purificá-la e fazê-los candidatos para a Outorga da Torá. Isso era algo que deveriam adquirir por seu próprio mérito, nas trevas de suas deficiências e frieza de sua alienação. Mas foi esta visão inicial da luz Divina que os inspirou, encorajou e liderou-os em sua jornada.
A contagem anual
A cada ano, na primeira noite de Pêssach, comemoramos os eventos da noite do Êxodo. Pelo cumprimento do Sêder, revivemos a visão libertadora que dirige nossa emergência anual de nosso "Egito" pessoal e nossa liberação interna "da escravidão à liberdade, das trevas a uma grandiosa luz". Mas a revelação do Êxodo é apenas um lampejo breve e momentâneo. No dia seguinte começamos nossa trilha de quarenta e nove dias até o Sinai, reencenada a cada ano com a "Contagem do Ômer".
Iniciando-se com a segunda noite de Pêssach, contamos os dias percorridos desde o Êxodo, registrando os marcos e as estações de nosso auto-refinamento. O quinquagésimo dia é Shavuot, nossa experiência anual da Outorga da Torá, quando novamente ficamos ao pé do Sinai para receber a comunicação de D'us e ser consagrado como um "reino de sacerdotes e uma nação sagrada".
Fonte: Chabad